Eu chamo-me Cravid
E tenho um crime…
? Nasci na Trindade ?
A vida condenada.
Pintava casas
nas empreitadas da cidade.
Fui levado manhã cedo
e eles prenderam-me.
Fecharam meu corpo
Fechado de raiva
numa casa sem ar.
Camaradas de cela se cruzaram
camaradas de cela se juntaram…
E a porta de zinco ia abrindo
e sempre nascia uma esp’rança
de volver p’rá liberdade,
para o ar livre das ruas.
E a esperança saía
na porta fechada, cerrada
recebendo mais gente.
Aos vinte… trinta… quarenta…
Aos vinte, trinta, quarenta,
os gritos cresciam
as bocas secavam…
E a sede, a sede aumentava
e a gente morria sem ar…
E os tiranos zombavam no pátio.
Os gritos cresciam…
? Água, água, água…
Ar, ar!…
Num coro de morte
gritando p’la vida.
E a tarde caía
a noite chegava.
A gente morria…
Meia-noite, hora da morte…
Os coros subiam
na noite sinistra
e corpos humanos tombavam por terra.
? Ó velho, motorista Alfredo,
tu tombaste já…
Teu corpo inerte está livre
evadiu-se.
E tu, Lima,
Junto ao postigo
tu pediste ar
pediste vida
e o destino escarninho
tombou contigo no chão.
E o ar já não virá…
Um a um camaradas
um a um
no coro da angústia
se finaram, companheiros
no escuro de túmulos,
na eterna escuridão
da esperança morta.
E na manhã sinistra
de sexta-feira 6
nesse mês de Fevereiro
fatídico e cruel
eu ainda tinha vida…
Dezasseis, dezasseis homens
saíram tombando, erguendo a carcaça.
E eu fiquei.
Fiquei deitado.
Meu corpo caiu sobre os mortos
na primeira revolta.
E levantei-me.
De mim, saiu outro homem.
Eu levantei maluco
e corri à porta.
Eu gritei
p’la água que não vinha
p’la fome que tinha.
E escarrei ao carrasco
todo o fel, todo o fel
da revolta nascente.
E eles, eles, os tiranos
só ligaram meus membros
quando o corpo cansado o consentiu.
A revolta cresceu…
As lavas sufocaram os algozes
e as forças dos meus nervos
desataram as cordas.
A rebelião crescia
e os carrascos sem nome
atiraram contra mim.
E os tiros vieram
e eu resisti.
Eu não morri.
Juntos em redor de mim
cobriram de andalas meu corpo
e eu não morri.
Cresço em ondas de revolta
e estou ficando louco.
Deportaram-me
mas eu já voltei…
Meus olhos não param
e eu estou de pé.
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